Megaoperação contra o PCC revela esquema bilionário de combustíveis adulterados e lavagem de dinheiro
Uma megaoperação contra o PCC (Primeiro Comando da Capital) mobilizou o Brasil nesta quinta-feira (28). A ação, chamada de Operação Carbono Oculto, teve como alvo 350 mandados em oito estados e expôs um dos maiores esquemas já descobertos de combustíveis adulterados, fraude fiscal e lavagem de dinheiro.
Segundo a Polícia Federal e o Ministério Público de São Paulo, a facção criminosa teria movimentado cerca de R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024, utilizando empresas de fachada, distribuidoras, fundos de investimento e até fintechs na Avenida Faria Lima, o centro financeiro de São Paulo.
Como tudo começou: Operação Arinna
As investigações tiveram início em 2021, com a Operação Arinna, que identificou a adulteração de diesel em caminhões e um esquema de sonegação fiscal. Na época, o prejuízo estimado aos cofres públicos era de R$ 500 milhões.
A quadrilha também fraudava a produção do ARLA 32, aditivo usado em veículos a diesel para reduzir poluentes. Em vez da ureia automotiva, os criminosos utilizavam ureia agrícola, isenta de impostos. O resultado era um produto mais poluente e que poderia danificar os motores.
Outro ponto descoberto foi a importação irregular de nafta, insumo da indústria petroquímica. O material, que deveria ser destinado à produção de tintas e vernizes, era misturado à gasolina no esquema de adulteração.
Operação Boyle: o metanol e os riscos ao consumidor
Um segundo braço da investigação, a Operação Boyle, revelou o desvio de cargas de metanol, produto utilizado no setor de biodiesel. O combustível adulterado chegava a postos da Grande São Paulo com notas fiscais fraudulentas.
Em alguns casos, a gasolina vendida ao consumidor continha até 90% de metanol, muito acima do limite permitido pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), oferecendo riscos graves à saúde e aos veículos.
O nome da operação faz referência ao cientista Robert Boyle, pioneiro nos estudos de destilação da madeira para obtenção do metanol, conhecido como “álcool da madeira”.
O braço financeiro do PCC
As investigações apontaram que o PCC usava fintechs, fundos de investimento e distribuidoras para movimentar o dinheiro ilegal.
Somente na Avenida Faria Lima, coração do mercado financeiro de São Paulo, foram identificados 42 alvos da operação. O esquema envolvia ainda empresas de fachada e contas de terceiros, configurando um sistema sofisticado de lavagem de dinheiro.
Operação Carbono Oculto: a maior da história contra o crime organizado
O desdobramento das operações Arinna e Boyle resultou na Operação Carbono Oculto, que mobilizou cerca de 1.400 agentes entre policiais federais, rodoviários, promotores e auditores fiscais.
Foram cumpridos mandados de busca, apreensão e prisão em oito estados, com bloqueio de empresas, imóveis, veículos e fundos de investimento ligados ao PCC.
De acordo com as autoridades, esta é a maior operação já realizada contra o crime organizado no Brasil, tanto pela abrangência quanto pela complexidade financeira.